terça-feira, 17 de novembro de 2009

Válvulas, quando trocar?

Meus caros,
Ao longo de todo este tempo que trabalho com válvulas e "gizmos" valvulados, volta-e-meia me deparo com amigos-clientes perguntando quando deveriam trocar as válvulas dos seus equipamentos.
A resposta ideal seria: nunca. Porém os dispositivos à vácuo não são como os de estado sólido (SS) e sofrem de alguns desgastes naturais, impossíveis de serem detidos mas passíveis de mitigação com um bom projeto.

Primeiro vou ilustrar algumas situações que já passei, em seguida a tradução de um pequeno texto do JLH e por fim alguns comentários de cunho pessoal.

1. Há alguns anos, quando ainda tinha tempo para brincar de "sintonizar" amplificadores valvulados para instrumentos musicais de amigos-músicos (confesso que gosto de fazer isto), fui indagado se queria algumas válvulas EL34 (a vedete dos Conrad-Johnson, Leaks e McIntoshes da vida). De bate-pronto disse que sim e perguntei o porquê da "doação". Ele me respondeu que eram as válvulas que ele trocava anualmente dos seus Marshalls. "...?" disse eu. Então me explicou que um fulano guitarrista-fuçador (que não vem ao caso) recomendou a troca periódica porque as válvulas deterioravam com o tempo e, para garantir os equipamentos sempre up-to-date, ele as trocava preventivamente pois elas custavam "apenas" US$400,00 o quarteto (que o próprio guitarrista-fuçador fornecia "testadas e com garantia de 2 meses").

Que mina de ouro! Quartetos de EL 34 casadas e queimadas por umas 500 horas, no máximo!!! Meus olhos brilharam, mas...

Minha consciência falou mais alto e fui obrigado a explicar para meu amigo: a) Não havia necessidade de troca periódica, b) Respeitando os limites das válvulas, sua vida-útil vai de 2.000 a 10.000 horas de uso contínuo (para começar a apresentar problemas, vejam bem, não é para falhar completamente!) e finalmente c) Ele poderia recuperar parte da grana tomada pelo guru-guitarrista-fuçador vendendo alguns quartetos de EL34 praticamente zerados, pela internet...

2 "The Art Of Linear Electronics"- JLH, pag 50:

"Processo de deterioração.

Um dos problemas da utilização de dsipositivos termo-iônicos é que eles se deterioram gradualmente com o tempo, proporcionando uma vida-útil efetiva de 2.000 a 10.000 horas de trabalho contínuo, dependendo das condições de uso até que esta deterioração comece a se fazer perceptível com perda de performance nos equipamentos onde são utilizados.
Esta deterioração natural tem sua origem em dois fatores principais - a redução de emissão eletrônica do cátodo e a perda gradual do vácuo interno do invólucro de vidro (ou metal).
A deterioração da emissão do cátodo é uma consequência inveitável da redução química do depósito inicial de Bário e outros óxidos que cobrem os filamentos durante o uso natural das válvulas e também pela evaporação do metal sólido depositado no cátodo com o objetivo de maximizar sua emissão.
Essa minimização de emissão é acelerada toda vez que as temperaturas de trabalho do filamento e, por consequência, do cátodo, são maiores que as recomendadas pelos fabricantes. Alternativamente, em cátodos já deteriorados, podemos estender sua emissão aumentando-se propositadamente estas temperaturas, porém com a redução drástica do tempo de vida do dispositivo.
A deterioração por perda do vácuo, é muito mais comum em dispositivos de maior potência, e normalmente estão associadas aos gases que estão incialmente adsorvidos e posteriormente são exalados pelas grandes estruturas internas metálicas quando expostas às altas temperaturas. Esta condição acontece quando altas correntes circulam nas estruturas internas do dispositivo. Válvulas trabalhando nos seus limites propiciam estas condições. Estas condições também podem ocorrer, mas em menor escala, quando os óxidos metálicos que revestem os filamentos e cátodos são reduzidos ao metal original liberando o Oxigênio do composto; normalmente o "getter" (o anel de Magnésio ou Estrôncio que vemos dentro das válvulas, geralmente próximos à área espelhada do bulbo) consegue absorver este Oxigênio liberado transformando-o em óxidos novamente, desde que seu aparecimento apresente pequenas taxas de evolução.
Quando uma válvula se torna "gassy" (=gasosa, em oposição´ao termo "evacuada"), ela provavelmente irá exibir uma luminescência azul-violeta, caracterísitca da ionização dos gases internos, pois já não haverá vácuo perfeito. (exceção feita à familia da 6L6 que apresenta esta ionização em válvulas recém-construídas - 6L6, 6CA5, EL34, KT66, KT88, 6550, etc).
Esta ionização levará à produção de íons positivos que, quando acelerados em direção ao cátodo que está carregado negativamente, irá resultar num bombardeamento prejudicando as suas propriedades emissivas pela extração do material que cobre esta estrutura, chegando em alguns casos a extrair pequenos pedaços metálicos do cátodo que podem ser vistos quando tombamos a válvula defeituosa e batemos gentilmente no invólucro de vidro fazendo com que este material corra para uma área visível do vidro."

3) Meus comentários:

a) Como tudo no Universo, as válvulas, nacem, vivem e morrem. "Face it".
b) Válvulas morrem por dois motivos principais: perda de emissão e perda de vácuo (que acaba afetando a emissão indiretamente).
c) Suas vidas podem ser estendidas através de "exercícios físicos e uma vida regrada, sem excessos". Isso soa familiar, para outra "válvula" que conhecemos bem?...

O que fazemos para mantê-las pelo maior tempo possível funcionando bem?
  • No início de um projeto, devemos respeitar os parâmetros sugeridos pelos fabricantes, Ninguém melhor que o pai para conhecer o filho. Seja conservador. Eu sei, elas aguentam muito mais do que está escrito....a experiência mostra isto, mas a que custas?
  • Sempre use fontes de tensão DC reguladas, no +B e nos filamentos. Isto garante a calmaria elétrica necessária para que o material não seja arrancado das estruturas internas.
  • É melhor trabalhar abaixo do que acima, principalmente quando se trata de filamentos. 6,3vdc garantem 1.000 horas. 6,2Vdc garantem 4.000 horas (exemplo ilustrativo!) Esta relação não é linear!
  • Em casos onde as tensões de ânodo são altas, é mister aquecer as válvulas antes de aplicar o +B. Bombardear elétrons sobre estruturas metálicas frias produzem dois efeitos nocivos: 1) arrancam material e 2) produzem raios-X!
  • Use um timer para liberar o +B após os filamentos aquecerem por pelo menos 30 segundos.
  • Quer mais potência? Use válvulas mais potentes. Eu sei do que uma 6L6GC é capaz, mas uma 6550 faz o trabalho "com o pé-nas-costas" e vai durar muito mais para a mesma potência desejada.
  • O Sr. Marshall levou 50 anos para descobrir o ponto ideal do BIAS para a sua topologia. Não tem mágica. Se está setado para um valor, deve ter algum motivo para isto.
  • Válvulas usadas com moderação e dentro dos seus limites atingem o máximo da emissão com aproximadamente 100 a 500 horas de uso. Você perceberá dia-a-dia seu amplificador melhorando até que se atinja estes patamares.
  • Troque as válvulas quando apresentarem defeito, se trocar antes, você poderá jogar fora um excelente par de válvulas, "queimadas", amaciadas e melodiosas, para colocar no lugar válvulas novinhas, limpas, sem arranhões com o logo novo em folha ostentando um desenho dourado feito por um publicitário e que levará meses ou até anos para ficar "no ponto" novamente.
  • Equipamentos pequenos, sem válvulas de potência, podem ficar ligados o final de semana inteiro, sem muito prejuízo, a não ser a energia elétrica... Equipamentos maiores gastam mais energia e devem ser poupados dos aquecimentos sem uso com programa sonoro. Se não houver uma chave de Stand-by, 1/2 hora de antecedência é o ideal para que sejam ligados antes de uma audição.
  • Sempre mantenha as válvulas livres de poeira. O pó doméstico é um ótimo isolante térmico e é muito prejudicial sobre os bulbos das válvulas, uma vez que tendem a conservar o calor sobre os elementos impedidndo a convecção eficiente do ar.

É isto aí. O assunto nunca se esgota, mas é um bom indicativo para leituras futuras.

Grande abraço.

www.amplificadores.com.br

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